SADSACK: Cruz e Sousa: O Poeta Solar
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19.12.13

Cruz e Sousa: O Poeta Solar

A poesia simbolista é uma grande jornada do poeta por ele mesmo. Alienado ao plano físico, o simbolista mergulha no íntimo de sua alma em busca de sensações adormecidas que sejam suficientes para o entendimento de uma nova realidade marcada por crises políticas, econômicas e sociais da época.

Cruz e Sousa é a figura mais importante dessa corrente literária no Brasil. Filho de negros alforriados, o poeta pode ser visto em certas tendências como um neorromântico, uma vez que valoriza seus impulsos pessoais e usa da sua condição de indivíduo negro sofredor como fontes de inspiração poética. 

A obsessão pela cor branca é a característica mais marcante de sua obras. Além disso, sua poesia carrega em si traços de satanismo e acentuado pessimismo, intensa musicalidade com tom oratório e melodioso, profundo subjetivismo, linguagem exuberante e desejo permanente de sublimação.

Selecionei alguns dos meus poemas favoritos de Cruz e Sousa (espero que amem tanto quanto eu!). Pensei em adicionar aos poemas uma pequena análise, mas achei melhor deixar que vocês tirem suas próprias conclusões (dizem que quem tem a capacidade de entender um poema simbolista é gênio ou louco, então boa sorte). Se possível, leiam-os em voz alta.



Antífona(Broquéis, 1893)

Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras

Formas do Amor, constelarmente puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas ...

Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...

Visões, salmos e cânticos serenos,
Surdinas de órgãos flébeis soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...

Infinitos espíritos dispersos,
Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios.

Do Sonho as mais azuis diafaneidades
Que fuljam, que na Estrofe se levantem
E as emoções, todas as castidades
Da alma do Verso, pelos versos cantem.

Que o pólen de ouro dos mais finos astros
Fecunde e inflame a rima clara e ardente...
Que brilhe a correção dos alabastros
Sonoramente, luminosamente.

Forças originais, essência, graça
De carnes de mulher, delicadezas...
Todo esse eflúvio que por ondas passa
Do Éter nas róseas e áureas correntezas...

Cristais diluídos de clarões alacres,
Desejos, vibrações, ânsias, alentos
Fulvas vitórias, triunfamentos acres,
Os mais estranhos estremecimentos...

Flores negras do tédio e flores vagas
De amores vãos, tantálicos, doentios...
Fundas vermelhidões de velhas chagas
Em sangue, abertas, escorrendo em rios...

Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,
Nos turbilhões quiméricos do Sonho,
Passe, cantando, ante o perfil medonho
E o tropel cabalístico da Morte...






Sinfonias do Ocaso
(Broquéis, 1893)

Musselinosas como brumas diurnas

Descem do acaso as sombras harmoniosas,
Sombras veladas e musselinosas
Para as profundas solidões noturnas.

Sacrários virgens, sacrossantas urnas,
Os céus resplendem de sidéreas rosas,
Da lua e das Estrelas majestosas
Iluminando a escuridão das furnas.

Ah! por estes sinfônicos ocasos
A terra exala aromas de áureos vasos,
Incensos de turíbulos divinos.

Os plenilúnios mórbidos vaporam...
E como que no Azul plangem e choram
Cítaras, harpas, bandolins, violinos...


Só uma pequena nota de rodapé: queria fazer um agradecimento ao meu professor de literatura (ele nem vai ver isso, mas vale a intenção)

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